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'Só de pensar na ceia de Natal fico desesperada'
A comida era a pior parte das festas de fim de ano e ela estava por toda a parte. Segundo a jovem, pensar na mesa farta era uma experiência "assustadora".
Assim como muitas meninas, Áine sofre de um tipo de distúrbio alimentar.
"O Natal me traz muitas lembranças ruins. Nunca podia sentar-me à mesa com minha família e muitas vezes não comia nada."
"Por causa do meu problema, minha mãe ficava muito zangada. Acabávamos discutindo, e nunca consegui apagar isso da memória", acrescenta.
Enquanto a família colocava o papo em dia, Áine permanecia em silêncio, preocupada com o que os outros pensavam dela.
Ela dizia oscilar momentos de culpa e apreensão. Afirma que se sentia "horrível, uma monstra por comer tanto" ao passo que, em seguida, perguntava a si mesma se o resto dos convidados achava que ela não estava comendo "o suficiente".
Aos 16 anos, Áine desenvolveu um distúrbio alimentar grave, em parte resultado de uma depressão surgida na infância.
Hoje, aos 21 anos, ela passou o último Natal em uma cama de hospital. Mas não estava sozinha.
No ano passado, cerca de 21 mil pessoas na Inglaterra tiveram de ser hospitalizadas em situação semelhante.
"No ano passado, estava muito triste e senti que não havia esperança, não havia futuro para mim", lembra.
"Chegou dezembro e com ele os preparativos para o Natal. Só de pensar na ceia já ficava desesperada".
"Não sabia se conseguiria seguir em frente e queria dar cabo da minha vida", acrescenta.
Rejeição
Áine diz acreditar que o transtorno alimentar surgiu pela ausência do pai durante sua infância.
"Tinha uma infância muito dura, com meu pai ausente em alguns momentos importantes da minha vida".
"Acho que essa rejeição nunca saiu da minha cabeça. A isso se somou minha baixo autoestima, o que propiciou o surgimento da minha doença".
Victoria, de 17 anos, também sofreu depressão e foi diagnosticada com anorexia.
Image copyrightThinkstockImage captionSegundo Victoria e Áine, perder o controle da dieta durante a recuperação de um distúrbio alimentar pode levar à recaída
"Sei que soa muito clichê, mas você sente que há uma nuvem preta em cima de você o tempo todo".
"Você não acha graça em nada, você chega a sorrir mas é um riso falso".
Ela diz concordar com Áine que a época de Natal é "pior do ano".
"As pessoas se sentem pressionadas em demonstrar felicidade, sair de casa e fazer muita coisa".
"E há sempre muita comida no Natal…você entra em pânico sobre a quantidade de comida que você espera comer", explica ela.
Recaída
Segundo Victoria e Áine, perder o controle da dieta durante a recuperação de um distúrbio alimentar pode levar à recaída.
"É muito difícil olhar as fotos dos Natais passados, são muitas lembranças ruins".
Áine e Victoria esperam que o Natal deste ano seja melhor do que os anteriores.
"Aprendi que não devo colocar pressão sobre mim mesma só para agradar a minha mãe", diz Áine.
"Mas quero ter um Natal mais feliz neste ano e por isso estou juntando forças para não sofrer uma recaída e permanecer forte", acrescenta.
Para Victoria, "não posso dizer que será melhor, mas vou fazer o possível para que seja".
Fonte: BBC Brasil